segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Os pais adoptivos e os candidatos vão ter formação específica para a mudança

Manuela Morgado estranhou aquele inquérito que associava a Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto (FPCEUP) e o Instituto de Segurança Social (ISS). Sobretudo o item: "A adopção feita por homossexuais tem mais riscos de ser mal sucedida. Discordo plenamente,
discordo, concordo, concordo plenamente". Adoptou uma criança de cinco anos. "O que interessa o que eu penso sobre estas questões?"


Não é uma pergunta feita no ar. O questionário já aplicado a mais de 500 indivíduos tenta apurar as representações sociais dos adoptantes e dos candidatos a adoptantes em Portugal, explica a investigadora da FPCEUP Adelina Barbosa. Parece-lhe fundamental conhecer as ideias que têm sobre adopção para ajustar o programa de formação que está a ser preparado.

O questionário contém 52 itens. Alguns controversos, como a adopção por singulares, homossexuais ou doentes crónicos. "Os itens foram redigidos a partir de resultados de investigações conduzidas no estrangeiro", sublinha, lembrando que os inquiridos não tinham de responder a todas as questões.

Para já nem dá para saber, com rigor, se a homossexualidade é um factor de risco ou de protecção ou nem numa coisa nem outra em matéria de adopção. Poucos países têm experiência no assunto, salientou a docente. E os que a têm não têm muita.

O ISS sentiu necessidade de alterar as práticas dos técnicos que trabalham os processos de adopção. E estabeleceu um protocolo com a FPCEUP. Um grupo multidisciplinar foi constituído e investido da missão de definir novos modos de intervir na adopção. O trabalho deverá estar concluído antes do fim do ano. O novo modelo entrará em vigor em 2009.

Adelina Barbosa não quis adiantar qualquer novidade. Novidades só no I Congresso Internacional da Adopção, a 19 e 20 de Novembro, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, começou por dizer. Mas confirmou como "fundamental" a criação de uma espécie de manual para as equipas técnicas que irão preparar/acompanhar os pais. E disse que "inovador", na sua opinião, "é haver formação para candidatos e para pais adoptivos".

Continua a haver um desencontro entre os desejos dos candidatos a pais adoptivos e a realidade das crianças disponíveis para adopção. No final de Setembro, 2308 queriam crianças até três anos e 1258 entre 4 e 6; apenas 201 admitiam adoptar uma criança de sete a dez anos e 24 entre 11 e os 15. Ao mesmo tempo, do total de 1856 menores disponíveis, apenas 536 tinham até três anos, 453 entre quarto e seis, 476 entre sete e dez, 339 entre 11 e 15.


O desencontro aumenta frente a outras características: 2278 só aceitam crianças sem problemas de saúde, 152 admitem crianças com problemas de saúde ligeiros, 13 com deficiência, quatro com outros problemas de saúde graves. Os portugueses continuam a querer crianças saudáveis e caucasianas: 2019 só concedem adoptar uma criança branca; 201 elegem "caucasiana ou outra", 189 "sem preferência" e 25 "outra raça".

No final de Setembro, havia 516 crianças a aguardar, num lar de infância e juventude, uma proposta de um candidato. A Bem Me Queres - Associação de Apoio à Adopção de Crianças está a promover uma petição, que irá submeter à Assembleia da República, para que seja instaurado em 10 de Maio de 2009 o dia nacional da adopção de crianças. Acha que com um dia dedicado à adopção conseguir-se-á "promover o debate na sociedade civil; consciencializar a sociedade para esta realidade; difundir junto das entidades competentes a dramática situação em que vivem as milhares de crianças institucionalizadas; sensibilizar o poder judicial para uma celeridade dos processos (http://www.peticao.com.pt/dia-nacional-adopcao).


Fonte: Público (07-11-2008)

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