sexta-feira, 8 de abril de 2011

Livro “ Mal-Entendidos “ de Nuno Lobo Antunes

"Para compreender uma criança temos de voltar ao país das memórias, reviver o que ficou para trás, habitar de novo medos de que nos esquecemos. Olhar com olhos de espanto, chamar filha a uma boneca, e replicar o milagre da criação dando-lhe voz. Para a compreender temos de voltar a pele do avesso, reduzir a dimensão do corpo na medida inversa em que cresce o sentimento. Cada criança é uma história por contar. Por vezes o Capuchinho Vermelho perde-se no bosque e não há beijo que resgate a Bela Adormecida.
Para muitas crianças a sua história pode não terminar bem, e não viverem felizes para sempre.

Este livro destina-se a essas crianças e a quem delas cuida: Pais, Professores, Psicólogos ou Médicos, que querem que todas as histórias tenham um final feliz, e não deixam o Espelho Mágico dizer a nenhuma criança que há alguém mais belo do que ela.

Devem existir em Portugal cerca de 100.000 crianças com perturbações de desenvolvimento.- Nuno Lobo Antunes , In Introdução

Hoje mesmo, dia em que termino o meu livro, alguém começa uma história: as minhas filhas conheceram os professores e a Escola que as vai acolher. Sentados em cadeiras pequeninas, a minha mulher e eu sentíamos a insegurança de quem confia a outros o que tem de mais importante. De hoje em diante a Rosa e a Ana estão à mercê dos seus professores. Uma palavra mais agreste destruirá a confiança que nos seus poucos anos de existência conseguiram adquirir, um sorriso de incentivo e conquistam o mundo. As minhas filhas são frágeis, vulneráveis. Só nós lhes conhecemos as inseguranças, o texto para além do pretexto, a inquietação que duas pequeninas rugas verticais, ao lado dos olhos tão bem traduzem. Que olhem para elas como nós as vemos, quando à noite as vamos espreitar, e dormem tranquilas mas indefesas, não fossemos nós. E agora deixamo-las entregues a outrem, sem a certeza de que elas compreendam que não há alternativa para o primeiro passo que as fará “pessoas crescidas”. Será que ainda acreditam em nós depois de as deixarmos num universo estranho, actrizes de um filme de que desconhecem o guião? Ao pôr a Ana no escorrega, bati com a cabeça numa barra de ferro. Fez barulho, doeu. A Ana olhou para mim e nada disse. Minutos depois, quando nada o fazia prever, deu-me um beijo na testa, curativo de quem, quando for grande, quer ser médica de crianças. Querida Ana, já entendeu o mais importante dos remédios: penso húmido, adesivo que não mais descola, e que me deixará sarado para sempre, deste, e de outros traumatismos. Damos-lhes tantos beijos iguais. E no entanto eles não são o escudo que vai impedir desgostos, a troça de outros meninos, a mágoa por uma colega que disse: “não gosto de ti”. Como pudemos abandonar as filhas à sua sorte? Difícil aceitar que o seu destino, só em parte depende de nós. Professores, tomem bem conta das nossas filhas que nem sempre aquilo que parece é."


Prémio BPI Capacitar

No âmbito da sua política de Responsabilidade Social o BPI lança a 2ª edição do Prémio BPI Capacitar, para as Instituições sem fins lucrativos, com sede em Portugal, que apresentem um projecto com a ambição de integrar a diferença e contribuir para a melhoria da qualidade de vida de pessoas com deficiência ou incapacidade permanente. Um prémio que irá atribuir € 500.000: um 1º prémio cujo montante pode ascender até € 200.000 e distinções até € 50.000 cada, para as restantes candidaturas seleccionadas.

A primeira edição do Prémio BPI Capacitar distinguiu 9 Instituições que têm por missão a promoção da melhoria da qualidade de vida e integração social de pessoas com deficiência ou incapacidade permanente.

Mais informações no sítio do Prémio BPI Capacitar