Uma casa no Bairro da Abelheira, em Quarteira, acolhe diariamente dezenas de crianças e adolescentes dos seis aos 20 anos, que encontram na 'stôra' Adelaide e nos restantes professores a alegria, o carinho, a dedicação e as normas de como se vive em sociedade que, por vezes, não recebem no seu meio familiar.
São 15h00 e as quatro pequenas divisões da casa já estão cheias de crianças, na sua maioria de raça negra, a brincarem, a cantarem no karaoke, a jogarem pingue-pongue ou a navegarem na Internet, enquanto esperam que os monitores de dança e pintura cheguem para começarem as actividades desse dia.
Uma parede de cada cor, fotografias e desenhos espalhados pela casa ou quadros com as palmas das suas mãos pintadas caracterizam a alegria, a imaginação e o espírito familiar vivido entre os jovens que estão intgrados no projecto.
Entre prostituição, droga, violações, maus-tratos ou discriminação racial, o maior problema deste bairro social, onde grande parte dos habitantes são provenientes dos países de língua oficial portuguesa, é o abandono escolar.
Com apenas 13 anos, um dos jovens que estava presente naquela tarde demonstrava o desinteresse perante as aulas, admitindo mesmo ter abandonado «para sempre» a escola, por ser «uma seca» e por não gostar de estudar.
O Projecto Boa Onda, promovido pela Câmara Municipal de Loulé, é um dos 121 projectos financiados pelo Programa Escolhas a nível nacional, que tem como objectivos a prevenção da criminalidade e da inclusão social e a inserção escolar de jovens dos bairros mais problemáticos, como o Bairro da Abelheira.
Em apenas 36 meses, os responsáveis pelo projecto Boa Onda têm o objectivo de tornar uma geração «problemática e vulnerável» numa geração «independente e autónoma», com capacidades para construir uma vida «digna e honesta», sem riscos futuros.
Com 50 anos de idade, Adelaide Correia, licenciada em Sociologia, confessa-se «feliz» por estar a ajudar, juntamente com os seus colegas, os cerca de 450 adolescentes, crianças, e respectivos pais inscritos no projecto, admitindo, contudo, ser difícil em alguns casos.
«Trabalhar num projecto social é, por vezes, difícil e frustrante», conta a responsável, descrevendo que já chegou a ir para casa com «lágrimas nos olhos» por ver «crianças com tantos problemas e carências pessoais».
Apesar de considerar ser um projecto de «avanços e recuos», devido a dificuldades de relacionamento de muitas crianças, que se reflectem no convívio com outras inseridas no projecto, Adelaide Correia admite haver «casos bem graves» que ficarão para sempre marcados na sua vida, mas que «valeram a pena».
«Os casos mais complicados são sempre os mais desafiantes», confessa a professora, que relata já ter enfrentado «jovens matulões», pais e crianças problemáticos, mas que hoje têm atitudes que era «impensável» terem há um ano atrás, no início do projecto.
Sem querer divulgar nenhum caso concreto, a responsável salienta que «este é um trabalho constante e continuado, onde os momentos bons acabam por apagar os momentos maus» e onde «muitos sorrisos ultrapassam as lágrimas caídas».
Natação, canoagem, futebol, surf, mergulho, teatro, música, dança e artes plásticas são, entre muitas outras, as actividades semanalmente realizadas neste projecto. A Cid Net, ou «sala dos computadores», faz as delícias dos jovens, onde aprendem com o «'stôr' Carlos» a jogar online, a criar blogues - como o do próprio projecto, blogarnaabelheira.blogspot.com - ou a aprender na Escola Virtual, apoiada pela Porto Editora, usufruindo diariamente do acesso livre à Internet.
Segundo contaram os responsáveis, há dois prédios em fase final de construção, junto ao Bairro da Abelheira onde, brevemente, serão realojadas famílias de etnia cigana, cujas crianças estarão também inseridas no Projecto Boa Onda. Os responsáveis temem «tempos difíceis» para o relacionamento entre as duas comunidades, tendo já visitado um acampamento cigano para as crianças começarem a integrar-se.
«Muito gratificante» foi a resposta que um dos responsáveis da Associação Dinamika expressou à Lusa, ao ser questionado acerca da parceria com o Projecto Boa Onda. Sendo a Dinamika a entidade gestora do projecto, a associação, sem fins lucrativos, faculta transportes para deslocações às diversas actividades, além como aulas de surf e de outras modalidades e respectivos monitores.
A Junta de Freguesia de Quarteira é uma das instituições que apoia o Projecto Boa Onda, que, para o presidente da autarquia, José Coelho Mendes, tem uma «enorme importância», considerando ser aquele que «está a dar mais frutos» e que, por isso, deveria ser continuado. Referindo-se ao facto de o projecto ter apenas um ano e meio de duração, finalizando em Outubro de 2009, o presidente da Junta de Freguesia de Quarteira diz não ser em dois ou três anos que se constrói uma sociedade, devendo ser um «trabalho prolongado».
O presidente da junta apela ainda a todas as crianças que ainda não conhecem «a família» deste projecto, e de tantos outros com objectivos como este, para que «não tenham problemas em aderir», defendendo os «futuros homens e mulheres deste país estão aqui».
Recentemente, a Alta Comissária para a Imigração e Diálogo Intercultural visitou este bairro, onde destacou o ambiente «caloroso, feliz e de grande proximidade» ali vivido. «Escolhemos este bairro por ser um exemplo para todas as comunidades», referiu a coordenadora nacional do Programa Escolhas, louvando o trabalho desempenhado por todos os monitores e responsáveis do Projecto Boa Onda.
Depois de agradecer a forma como a acolheram, prometendo uma nova visita em breve, Rosário Farmhouse confessou à Lusa que «são estes pequenos rebuçadinhos que valem a pena saborear», pois são momentos «muito tocantes».
«Daqui levo energia para o resto do ano», disse, assumindo o «gosto enorme» que tem em ir ao «terreno». Rosário Farmhouse elogiou o «empenho, alegria e dedicação» da professora Adelaide Correia, considerando-a «um símbolo para os miúdos», bem «marcante» nas suas vidas. Reconhecendo todo o trabalho efectuado pelo Programa Escolhas, a Alta Comissária diz que «o caminho para um mundo melhor é mesmo este» e defende que são exemplos como este «que deveriam ser replicados».
São 15h00 e as quatro pequenas divisões da casa já estão cheias de crianças, na sua maioria de raça negra, a brincarem, a cantarem no karaoke, a jogarem pingue-pongue ou a navegarem na Internet, enquanto esperam que os monitores de dança e pintura cheguem para começarem as actividades desse dia.
Uma parede de cada cor, fotografias e desenhos espalhados pela casa ou quadros com as palmas das suas mãos pintadas caracterizam a alegria, a imaginação e o espírito familiar vivido entre os jovens que estão intgrados no projecto.
Entre prostituição, droga, violações, maus-tratos ou discriminação racial, o maior problema deste bairro social, onde grande parte dos habitantes são provenientes dos países de língua oficial portuguesa, é o abandono escolar.
Com apenas 13 anos, um dos jovens que estava presente naquela tarde demonstrava o desinteresse perante as aulas, admitindo mesmo ter abandonado «para sempre» a escola, por ser «uma seca» e por não gostar de estudar.
O Projecto Boa Onda, promovido pela Câmara Municipal de Loulé, é um dos 121 projectos financiados pelo Programa Escolhas a nível nacional, que tem como objectivos a prevenção da criminalidade e da inclusão social e a inserção escolar de jovens dos bairros mais problemáticos, como o Bairro da Abelheira.
Em apenas 36 meses, os responsáveis pelo projecto Boa Onda têm o objectivo de tornar uma geração «problemática e vulnerável» numa geração «independente e autónoma», com capacidades para construir uma vida «digna e honesta», sem riscos futuros.
Com 50 anos de idade, Adelaide Correia, licenciada em Sociologia, confessa-se «feliz» por estar a ajudar, juntamente com os seus colegas, os cerca de 450 adolescentes, crianças, e respectivos pais inscritos no projecto, admitindo, contudo, ser difícil em alguns casos.
«Trabalhar num projecto social é, por vezes, difícil e frustrante», conta a responsável, descrevendo que já chegou a ir para casa com «lágrimas nos olhos» por ver «crianças com tantos problemas e carências pessoais».
Apesar de considerar ser um projecto de «avanços e recuos», devido a dificuldades de relacionamento de muitas crianças, que se reflectem no convívio com outras inseridas no projecto, Adelaide Correia admite haver «casos bem graves» que ficarão para sempre marcados na sua vida, mas que «valeram a pena».
«Os casos mais complicados são sempre os mais desafiantes», confessa a professora, que relata já ter enfrentado «jovens matulões», pais e crianças problemáticos, mas que hoje têm atitudes que era «impensável» terem há um ano atrás, no início do projecto.
Sem querer divulgar nenhum caso concreto, a responsável salienta que «este é um trabalho constante e continuado, onde os momentos bons acabam por apagar os momentos maus» e onde «muitos sorrisos ultrapassam as lágrimas caídas».
Natação, canoagem, futebol, surf, mergulho, teatro, música, dança e artes plásticas são, entre muitas outras, as actividades semanalmente realizadas neste projecto. A Cid Net, ou «sala dos computadores», faz as delícias dos jovens, onde aprendem com o «'stôr' Carlos» a jogar online, a criar blogues - como o do próprio projecto, blogarnaabelheira.blogspot.com - ou a aprender na Escola Virtual, apoiada pela Porto Editora, usufruindo diariamente do acesso livre à Internet.
Segundo contaram os responsáveis, há dois prédios em fase final de construção, junto ao Bairro da Abelheira onde, brevemente, serão realojadas famílias de etnia cigana, cujas crianças estarão também inseridas no Projecto Boa Onda. Os responsáveis temem «tempos difíceis» para o relacionamento entre as duas comunidades, tendo já visitado um acampamento cigano para as crianças começarem a integrar-se.
«Muito gratificante» foi a resposta que um dos responsáveis da Associação Dinamika expressou à Lusa, ao ser questionado acerca da parceria com o Projecto Boa Onda. Sendo a Dinamika a entidade gestora do projecto, a associação, sem fins lucrativos, faculta transportes para deslocações às diversas actividades, além como aulas de surf e de outras modalidades e respectivos monitores.
A Junta de Freguesia de Quarteira é uma das instituições que apoia o Projecto Boa Onda, que, para o presidente da autarquia, José Coelho Mendes, tem uma «enorme importância», considerando ser aquele que «está a dar mais frutos» e que, por isso, deveria ser continuado. Referindo-se ao facto de o projecto ter apenas um ano e meio de duração, finalizando em Outubro de 2009, o presidente da Junta de Freguesia de Quarteira diz não ser em dois ou três anos que se constrói uma sociedade, devendo ser um «trabalho prolongado».
O presidente da junta apela ainda a todas as crianças que ainda não conhecem «a família» deste projecto, e de tantos outros com objectivos como este, para que «não tenham problemas em aderir», defendendo os «futuros homens e mulheres deste país estão aqui».
Recentemente, a Alta Comissária para a Imigração e Diálogo Intercultural visitou este bairro, onde destacou o ambiente «caloroso, feliz e de grande proximidade» ali vivido. «Escolhemos este bairro por ser um exemplo para todas as comunidades», referiu a coordenadora nacional do Programa Escolhas, louvando o trabalho desempenhado por todos os monitores e responsáveis do Projecto Boa Onda.
Depois de agradecer a forma como a acolheram, prometendo uma nova visita em breve, Rosário Farmhouse confessou à Lusa que «são estes pequenos rebuçadinhos que valem a pena saborear», pois são momentos «muito tocantes».
«Daqui levo energia para o resto do ano», disse, assumindo o «gosto enorme» que tem em ir ao «terreno». Rosário Farmhouse elogiou o «empenho, alegria e dedicação» da professora Adelaide Correia, considerando-a «um símbolo para os miúdos», bem «marcante» nas suas vidas. Reconhecendo todo o trabalho efectuado pelo Programa Escolhas, a Alta Comissária diz que «o caminho para um mundo melhor é mesmo este» e defende que são exemplos como este «que deveriam ser replicados».
Fonte: Lusa/SOL
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